Fidel Castro (1926-2016)

Fidel Alejandro Castro Ruz é ainda hoje um dos mais controversos estadistas da América Latina. Governou Cuba entre 1959 e 2008. Nascido na província de Birán, filho de um fazendeiro, Fidel teve acesso às melhores escolas de Cuba. Formado em Direito, cedo mostrou-se um grande orador e dono de retórica fascinante. Por outro lado, herdou dos jesuítas a tendência a fazer longos sermões. Igualmente, o forte de Castro não era a crítica e a autocrítica. Estudou junto aos jesuítas, mas destacava-se, primeiramente, em esportes e, posteriormente, no movimento estudantil. Fez campanha pela libertação de Porto Rico e esteve na Colômbia no tempo da grande rebelião popular no início dos anos 50, afogada em sangue. Teve muita sorte em não ter sido executado nesse período violento na Colômbia.

No início dos anos 50, quando Fulgencio Batista, que chegou ao poder para fazer reformas ao lado de uma reforma de sargentos e era de origem operária, fechou o regime e tornou-se um ditador, Fidel Castro destacou-se na oposição, pois passou para a via armada e liderou o levante do quartel de Moncada. Foi preso na Ilha de Pinos e posteriormente exilou-se no México. Julgado por Batista, não era tido como comunista e sim ligado ao Partido Ortodoxo. Uma vez preso após o levante de Moncada, foi julgado e escreveu sua autodefesa, A História me Absolverá, fazendo sua própria defesa. Ao ser acusado de agir por meios ilegais, alegou que o próprio Batista estava violando a lei e governando ilegalmente. Nesse episódio é surgiu o chamado “Movimento 26 de julho” de 1954.

Fidel segurando uma bola de futebol

Uma vez exilado, Fidel Castro voltou a Cuba e, junto com 18 companheiros, iniciou a guerrilha em Sierra Maestra. Ele se beneficiava do fato de que as regiões montanhesas de Cuba combateram longamente a dominação espanhola, tendo então tradição de guerrilha. Ao mesmo tempo em que Castro e seus companheiros lideravam a luta armada, o movimento sindical fazia greves nas cidades, o que fez o regime de Batista se desagregar. Os comunistas não se faziam presentes em maioria dentre os rebeldes cubanos e o partido comunista local já tinha, no contexto das frentes antifascistas dos anos 30, tornando-se Partido Socialista Popular e negociado a semi-legalidade junto a Batista, não sendo, portanto, uma ameaça para o imperialismo norte-americano.

Os USA foram pegos de surpresa pelo levante cubano. As atenções estavam voltadas para a contrarrevolução na Hungria em 1956 e para a URSS, onde os novos governantes, refratários a Stálin, criavam um ambiente muito mais favorável à democracia liberal capitalista do que o regime anterior. Mesmo assim, Fidel Castro enfrentou tanto uma invasão de cubanos contrarrevolucionários em 61 quanto uma guerrilha na região de Escambray.

Ao contrário do que muitos pensam, Fidel Castro não assumiu o poder prontamente. Quem assumiu, em meio a acordos, foi Manuel Urrutia, mas o governo tinha muita gente ligada ao movimento 26 de julho. O exército foi a grande força decisiva no processo histórico cubano. O Partido Comunista Cubano só fez seu primeiro congresso em 1975. Em 1967, Alberto Escalante e seu grupo foram expurgados do partido, constituindo, então, a última resistência significativa ao grupo de Fidel a ser derrotada.

Outra divergência marcante foi a que ocorreu, a portas fechadas, entre Guevara e Fidel por volta de 1965. Castro e seu grupo optaram pela associação com a União Soviética, mas seguiram propondo o foco armado enquanto estratégia revolucionária. O grupo de Guevara, mais à esquerda, foi derrotado após a saída de Guevara de Cuba por volta de 65. Sua morte em 1967 representou o começo do fim da estratégia armada. A partir daí, pouco a pouco Cuba passou a apoiar governantes eleitos, tais como Hugo Chávez.

A relação com Nicarágua e El Salvador no tempo em que esses países tinham guerrilhas armadas foi, no mínimo, polêmica. Há quem diga que Castro e seu regime propuseram a democracia pluralista para a Nicarágua, ao invés do partido único, assim como a economia mista, alinhando-se como que propunha Gorbachev. Ao mesmo tempo, em 1990, quando Cuba estava mediando a paz em El Salvador, a paz foi colocada como um imperativo, o que fez com que pelo menos um dos comandantes da Frente Farabundo Martí divergisse e, supostamente, cometesse suicídio devido a isso.

Fidel Castro

Antes disso, Fidel Castro governou com base numa frente de variados movimentos, sempre clamando pela unidade quando surgiram divergências. Ainda hoje, segundo Abel Prieto, ex-ministro da cultura de Cuba, o partido comunista cubano reivindica ser partido único não devido a Lênin, mas a José Martí, embora Martí fosse um liberal. Pode-se dizer que o partido comunista cubano é eclético, composto por várias frações: trotsquistas, anarquistas, etc. Embora já tenham sido duramente criticados por Fidel em textos como Trotsquismo, Instrumento Vulgar do Imperialismo, pode-se dizer que o trotsquismo sempre foi tolerado em Cuba e a linha hoxhaísta afirma que o trotsquismo influencia muito a atual direção.

Fidel Castro governou Cuba em diferentes períodos entre 1967 e 2008. O mais crítico foi o período especial, datado de depois da queda da União Soviética. Alguns episódios controversos foram a prisão e execução de Arnaldo Ochoa no início dos anos 90. Para muitos, ArnaldoOcha, veterano da revolução de 59, na prática era uma ameaça para Castro, embora tenha sido preso por tráfico de drogas.

A aproximação com a China e com a Venezuela de Chávez marcaram os anos 2000, assim como a distensão recente com relação aos Estados Unidos foi marcada pela visita de Barack Obama e de um show gratuito dos Rolling Stones.



Sobre o Autor:


Lúcio Junior Espírito Santo. Graduado em Filosofia. Mestre em Estudos Literários/UFMG. Blog: revistacidadesol.blogspot.com). Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba, 1974.

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