O governo Lazaro Cárdenas no México

A morte de Zapata e Pancho Villa, representaram o fim da radicalização da revolução mexicana. A partir de então, o Partido Nacional Revolucionário (PNR) fundado por Plutarco Calles em 1929, tinha por objetivo “institucionalizar” a revolução[1]. O país lentamente se reorganizava após a Constituição de 1917. Calles influenciou muito a política mexicana no final dos anos 1920; tanto que surgiu uma corrente dentro do partido chamada de callistas.

O peso da crise de 1929 era sentido na economia mexicana que, por sua vez, estava num período delicado, depois dos anos turbulentos da revolução e sua consequente guerra civil. É neste contexto que, na década de 1930, chega a presidência Lazaro Cárdenas. Seu governo é marcado por uma política progressista que, em parte, coloca em prática as velhas demandas dos setores mais atuantes da Revolução Mexicana: os os trabalhadores rurais e urbanos.

Lazaro Cárdenas era militar. Nascido em 1895 na cidade de Juquilpan, estado de Michoacan. Em 1913, ele se engaja no exército de Álvaro Obregon, que tentava estabilizar a política nacional frente ao perigo dos remanescentes do porfiriato. Em 1928, Cárdenas se tornou governador do seu estado natal, Michoacán. Em 1934 é eleito presidente com o apoio dos callistas. Não demorou muito para que Cárdenas rompesse com os callistas e organizasse as bases de seu governo nos trabalhadores urbanos e camponeses. Suas principais bandeiras eram: industrialização e reforma agrária.

Lazaro Cárdenas

A reforma agrária do governo Cárdenas se deu aos moldes dos antigos ejidos (pequena propriedade comunal que foram destruídas ao longo do século XIX e principalmente no período do porfiriato). Os latifúndios foram retalhados. Para que os camponeses pudessem produzir nessas terras, o estado lhes concedia um crédito exclusivo – através do Banco Nacional de Crédito para Ejidos, fundado em 1936. O governo também fomentava a criação de milicias rurais com camponeses armados, caso os grandes fazendeiros tentassem lhes roubar a terra. Em 1936 foi criada a Confederação Nacional Camponesa, estendendo os direitos trabalhistas ao campo. Ao mesmo tempo, o governo criou um plano para alfabetização no campo.

Nas cidades foi criada a Confederação Mexicana dos Trabalhadores (CMT), dirigida por Vicente Toledano, um simpatizante da União Soviética. O objetivo era manter centrais sindicais mais autônomas, mas nem por isso completamente desligadas das esferas estatais. Por outro lado, o governo também tinha sua influência em setores que desejavam promover a industrialização do país; industrialização que não tirasse direitos dos trabalhadores.

No plano das nacionalizações as ferrovias e o petróleo são as que mais se destacam. Desde o período do porfiriato as ferrovias mexicanas eram de propriedade dos Estados Unidos. O petróleo, por sua vez, foi estatizado em 1938, sob monopólio da PEMEX (Petróleos Mexicanos); colocando em prática o que dizia a Constituição de 1917: as riquezas do solo mexicano pertencem ao México. Essa política de nacionalização, obviamente, não agradou os Estados Unidos. Houve uma fuga em massa de capitais estrangeiros do país, criando, assim, obstáculos à industrialização que o governo queria. Os esforços do governo Cárdenas, tanto na política de reforma agrária e na educação nacional, bem como na construção de estradas, casas populares e nas nacionalizações, marcou profundamente os rumos do país, e o espírito nacional do povo mexicano.

O grande avanço social produzido pela política de Lazaro Cárdenas, infelizmente, não teve continuidade após seu governo. O governo de Ávila Camacho (1940-1946) logo tratou de fortalecer uma classe de capitalistas mexicanos que não queria mais esperar o governo concluir uma reforma agrária. E a Segunda Guerra acabou favorecendo esse projeto. Quando os Estados Unidos entrou no conflito, eles logo tentaram conquistar o apoio dos países latino-americanos. Sendo assim, ambos os governos (EUA e México) logo realizaram alguns acordos econômicos; os capitais estadunidenses que foram embora no governo Cárdenas, agora retornavam com força – alavancados pela recuperação econômica dos EUA durante e depois da guerra. A partir daí, a política nacional se distanciava cada vez mais das diretrizes socializantes de Cárdenas para dar um espaço cada vez maior a esses capitalistas burgueses. Camacho foi seguido na presidência por Miguel Alemán (1946-1952) e Adolfo Ruiz Cortines (1952-1958). Os latifúndios foram sendo reconstruídos, andando de mãos dadas com a burguesia industrial, e jogando milhares de camponeses na miséria. Não é a toa que o filho de Lázaro Cárdenas, Cuauhtemóc, fiel às ideias de seu pai, disse em uma publicação de 1968: “os latifúndios simulados se constituíram, preferencialmente, nas terras de melhor qualidade, nas mais produtivas”.

O governo Cardenas também se caracterizou por receber vários exilados da Guerra Civil espanhola (1936-1939).

“Como seus predecessores Gomez Farías e Juarez na História mexicana e como os seus contemporâneos Franklin D. roosevelt nos Estados Unidos, Getúlio Vargas no Brasil e Alfonso López na Colômbia, Cárdenas era um liberal no sentido nacional-socialista* , acreditando que o poder do governo deveria ser utilizado para implantar a justiça social”[2]


Notas:


[1] Para saber mais sobre a Revolução Mexicana acesse: http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2016/04/a-revolucao- mexicana-1910-1920.html

* Não confundir o nacional-socialismo aqui descrito com o nacional-socialismo do Partido Nazista alemão.

[2] DOZER, Donald. América Latina: uma perspectiva histórica. Porto Alegre: editora Globo, 1974, p. 538..

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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